Não sei exactamente se as estatísticas a que o consulente se refere estarão correctas. Tenho algumas dúvidas de que um falante de Português compreenda 90 por cento do Castelhano, 50 por cento do Italiano e 30 por cento do Francês. É um dado objectivo, porém, que os portugueses têm mais facilidade em compreender um espanhol do que um espanhol um português. O mesmo fenómeno acontece na América Latina entre os brasileiros e os outros latino-americanos de língua espanhola. Há certamente razões para esta circunstância. Contudo, não acredito que este facto, a existir, seja em si, factor essencial para a expansão do Português no mundo.
Aprendemos línguas estrangeiras considerando a funcionalidade que elas têm.
A expansão de determinada língua é sempre condicionada por factores extralinguísticos. É consequência não da vontade dos seus falantes, não de políticas de língua isoladas, mas sim do discurso científico que produz, da expressão cultural e artística que cria e, acima de tudo, das relações económicas que veicula.
As línguas desempenham uma função crucial na génese das culturas e civilizações, e o Português só desempenhará esse papel neste século, na medida em que se impuser como língua de ciência, de expressão cultural e artística e que seja um «meio de afirmação e uma poderosa vertente da economia de um país», como recentemente escreveu a linguista portuguesa Helena Mira Mateus num artigo no semanário "Expresso".
Assim, a expansão do Português no mundo surgirá naturalmente, quanto mais ciência se fizer em língua portuguesa, quanto mais cultura for criada em língua portuguesa, quanto mais arte for criada em língua portuguesa e quando os países integrantes da CPLP se afirmarem nas relações económicas internacionais. Estes factores serão essenciais para que falantes de outras línguas necessitem e queiram aprender a falar Português.