Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual a diferença entre palavra «sob égide» e «sob auspício»?

Resposta:

As locuções (prepositivas) atestadas são «sob a égide de» e «sob os auspícios de» e as mesmas são sinónimas, i.e., com elas quer-se dizer «sob a proteção, o apoio ou o patrocínio de» (Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa).

Pergunta:

Qual é a origem da expressão «compasso de espera»? Terá algo a ver com o compasso pascal?

Obrigado.

Resposta:

A locução compasso de espera tem origem na música, onde é utilizada para descrever a «pausa que um instrumento faz numa orquestra, até chegar a sua vez de tocar» (Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa). É importante ressaltar que, na música, compasso corresponde a «unidade de medida do tempo em intervalos iguais» e que, «compasso de espera» (ibidem) é a técnica que envolve a pausa intencional dentro deste compasso. 

Por conseguinte, «compasso de espera» é a técnica que consiste na pausa intencional dentro deste compasso musical.

Por extensão, «compasso de espera» passou também a significar «interrupção, pausa, intervalo; cessação temporária de uma atividade» (ibidem), em contextos mais amplos, além da música.

Quanto ao uso de compasso com o significado de «visita pascal», parece estar também no termo musical. No entanto, não é claro como compasso adquiriu esta aceção especial. 

 

Falar (mal) em direto
Problemas linguísticos das transmissões ao vivo

A  diferença entre transmissões ao vivo e programas gravados, é que os primeiros não oferecem a flexibilidade de edição e correção que os últimos proporcionam. Por isso, por vezes ouve-se, como foi caso numa transmissão da CNN Portugal, que «Israel está sobre ameaça», «todas as casualidades» e «West Bank».

Pergunta:

Quais são os respetivos gentílicos das capitais da Argentina e do México?

Isso no idioma português. Sabem me dizer na realidade?

Muitíssimo obrigado e um grande abraço!

Resposta:

Os naturais de Buenos Aires, capital da argentina, são denominados: bonaerenses (com origem no espanhol bonaerense, natural de Buenos Aires, Argentina), buenairenses (com origem no topónimo Buenos Aires + -ense) ou portenhos (com origem no espanhol porteño, natural de Porto de Santa Maria, designação atribuída a Buenos Aires), de acordo com o Portal da Língua Portuguesa e o Dicionário Houaiss1.

Relativamente aos naturais da Cidade do México, de acordo com o Diccionario del Español del Mexico, são, em espanhol, capitalinos. Note-se que este mesmo dicionário atesta capitalino como: «pertencente à capital, especialmente a de um país, ou relacionado a ela; em particular, é natural ou habitante da Cidade do México».

Acresce que os dicionários consultados2 não atestam a forma capitalino em português, mas na Wikipédia também se atesta esta palavra como gentílico referente aos naturais  de Buenos Aires.

 

1 No Dicionário da Real Academia Espanhola afirma-se que portenho  (porteño) é o natural de Buenos Aires, enquanto bonaerense é...

Pergunta:

Aluísio Azevedo, em Casa de Pensão, pág. 233, diz: «Qual, nhô, ele está assim "a" um 'ror de dias!»

Não deveria ser «há» ou «faz um ror de dias»?

Muitíssimo obrigado!

Resposta:

À epoca em que o romance Casa de Pensão foi escrito, 1884, a grafia do verbo haver já estava incorreta. À semelhança daquilo que se pratica hoje, o correto seria «Qual, nhô, ele está assim há um ror de dias!»

Entenda-se que a expressão, em que ror significa «uma grande quantidade de» (Dicionário da Língua Portuguesa), constitui uma expressão de tempo, em que se indica a duração de tempo decorrido até ao momento presente e, por isso, é precedida pelo verbo haver ou, em alternativa, o verbo fazer: «faz um ror de dias».