Trata-se de uma distinção proposta pelo linguista brasileiro Joaquim Mattoso Câmara Júnior, que a ela se refere do seguinte modo, em Problemas de Lingüística Descritiva, Petrópolis, Editora Vozes, 1971, págs. 34-37 (mantém-se a ortografia do original):
«Tradicionalmente, tôda e qualquer descrição da língua portuguesa leva em conta a existência do "vocábulo", e nisso se baseia.
«Nunca se cogitou, porém, de explicar e claramente definir em que consiste êle [...].
«O grande problema, no âmbito da língua oral é que por "vocábulo" se entendem duas entidades diferentes. De um lado, há o vocábulo "fonológico", que corresponde a uma divisão espontânea na cadeia de emissão vocal. De outro lado, há o vocábulo "formal ou mórfico", quando um segmento fônico se individualiza em função de um significado específico que lhe é atribuído na língua. Há certa correspondência entre as duas entidades, mas elas não coincidem sempre e rigorosamente.»
Um estudo de dois linguistas brasileiros exemplifica a diferença (Emanuel Souza de Quadros e Luiz Carlos Schwindt, "Um estudo sobre a relação entre palavra morfológica e palavra fonológica em vocábulos complexos do português brasileiro", Anais do CELSUL 2008, p. 3):
«Em muitos casos, contudo, não há coincidência entre essas duas noções de palavra [ou seja, vocábulo]. Há palavras morfológicas que correspondem a mais de uma palavra fonológica, e vice-versa. No composto cachorro-quente, por exemplo, as duas bases, cachorro e quente recebem acento primário de forma independente, configurando-se, portanto, como duas palavras fonológicas. Temos, contudo, apenas uma palavra morfológica, já que é impossível dividir cachorro-quente em formas livres menores, sem que se perca o significado específico que essas duas bases têm, quando funcionam, juntas, como uma unidade lexical. Já na expressão ajude-me, temos a situação inversa, isto é, duas palavras morfológicas correspondem a apenas uma palavra fonológica, dado que a partícula me não possui acento próprio.»